Falando com um esquerdista – mais uma tentativa

Prólogo
Despertei depois uma soneca bem longa. Não enxerguei nada de fora. Tentei de abrir a janela do trem pra ver melhor. A janela foi fechada permanentemente com parafusos sem cabeças. Claro! Me lembrei agora. Fui num trem de Berlin-Este para a cidade de Hanôver, nel Oeste da Alemanha. Num trem que partiu do Estado modelo do socialismo, a Alemanha Oriental, com rumo ao puteiro do capitalismo, a Alemanha Ocidental. Junho 1968. É preciso se proteger contra os inimigos do progresso da humanidade! Claro! As janelas, as fronteiras, melhor fechar bem tudo para proteger o que temos, com guardas armadas, pra sempre deixar o inimigo do povo fora do nosso paraíso. Assim falou o meu pai quem eu vi só uma vez na minha vida por 48 horas. Enquanto eu cresci no lixo do bordel dos banqueiros e capitalistas, o meu pai foi um herói do povo, secretário de Estado do país do futuro, a gloriosa DDR.

“Já estamos esperando mais que duas horas nesta porra de fronteira. Scheisse!” Quem falou foi um “Wessie”, com sotaque de Hamburgo, um destes caras da Oeste da Alemanha que foram blindados meio feio pela puta do consumismo como diria o meu pai se ele ainda vivesse. O enterro dele foi uma farsa patética. O tributo fúnebre por um líder do partido comunista, o único partido que existiu, foi breve; o discurso do militar soviético eu não entendi, foi em russo. Como elogiar um homem alcoólatra que se suicidou e deixou uma família inteira pra trás, uma esposa e uma filha de 12 anos mais um filho que viveu no país dos inimigos da pátria? O partido agradece o seu sacrifício pessoal pela sociedade do futuro da humanidade? Oi??

Tem conversa com um esquerdista? Esta pergunta me chegou pela primeira vez quando o trem finalmente passou a fronteira, no junho do ano 1968, depois mais que trés horas de controles para os quatro carruagens do nosso pequeno conboio de l’Este. A minha herança no bolso: um relógio da Russia que parou de funcionar nos anos 50 e um facsímile de Karl Marx’ ’11 teses sobre Feuerbach’. Então. tem conversa com um esquerdista? Ainda não tenho uma resposta. Suspeito que não tem por princípio. Talvez a questão tá errada?

E a questão é?
Hoje, como outrora, a luta da esquerda me parece meio quixótica. Quem luta contra o quem? O povo quer comer. Comida, mulher e popcorn no cinéma. Enquanto os esquerdistas marcham na rua, os ‘capitalistas’ se escondem nos palácios de aço e vidro. Seja que o alvo seria errado? Qual é o inimigo do comunismo de verdade? Comparando comunismo e capitalismo, não é comparar laranjas com bananas? Capitalismo é um sistema econômica é não social. o comunismo é ambos. Mas os resultados do capitalismo monopolista parecem iguais aos resultados dos sistemas comunistas. Meio complicado, né?

Então, qual seria logicamente o oposto do conceito do comunismo? O ‘individualismo’, sugeriu Anastasius Nordenholz na Alemanha dos anos 30. Boa sorte pra ele foi que ele ainda achou um lugar na última nave saindo da Amsterdã para Argentina no dia ante do começo da segunda guerra mundial. Nem um socialismo nacional tem espaço para individualistas.

Sempre me surpreendo como os intelectuais e os artistas lutam para uma sociedade socialista. Seja que não aprenderem ainda que as primeiras pessoas sacrificadas nos sistemas comunistas são sempre aqueles individualistas que lutaram pra a sua própria filosofia; que eles não entendem que os homossexuais, ou qualquer libertadores dos sexos, os artistas amados, os escritores brilhantes e qualquer pessoa com um diferencial notável serão cremados publicamente juntos com as suas obras, com o povo assistindo batendo as palmas ou olhando em outra direção?

Seja que é diferente no Brasil? “Ordem e progresso” é um paradoxo. Você nunca vai chegar á ambos. Um desfaz o outro. O moto do Brasil é baseado numa impossibilidade, uma falacia intelectual grotesca e inviável. Ilusão, propaganda ou mentira? Aguste Comte plagiou Henri de Saint-Simon que plagiou Joaquin de Fiore que plagiou Paulo que plagiou os sofistas gregos: “O Amor por princípio e a Ordem por base; o Progresso por fim”. Esta trindade sempre foi um paradoxo mas o caráter dialético deste lema nem o Karl Marx enxergou, xingando os pensamentos do Comte de “Scheiss-Positivismus” (“o positivismo de merda”).

Assim enrolado nos paradoxos Hegelianos mal enxergados, o socialista brasileiro não sabe quem atirar. Invés fazer o fantasma do comunismo rodar no Brasil, os socialistas caçam o fantasma do capitalismo. que sembra ainda mais elusivos que as asas do moinho do Don Quixote. Os poucos alvos se movem rápido, e ele perde munição cada dia que passa. Por isso não tem conversa.

E agora José?
Aliás, o problema começa dentro do Ser humano mesmo. A questão é do caráter existencialista, profundamente intima e individual. O homem se sacrifica pelo bem da tribo e da espécie OU ele busca transcender o comum em prol de um futuro melhor? Vai manter a ordem na vida social é engajar no serviço dos outros OU se comprometer pela pesquisa aventurosa por um progresso com um êxito incerto?

Uma conversa com um esquerdista é inútil. O problema não está só na sociedade, o problema é dentro dele mesmo. Assim, o esquerdista sempre se vai sentir uma vitima e uma vitima ele é, uma vitima perene, condenado á girar em círculos até o fim do mundo.

O Direitista também é uma vitima. Ele se vê assaltado pelo coortes do socialismo. Dentro da sua mente, ele se vê defender o mundo do ataque que chegaria com uma ditadura do proletariado. O individualista teme o barbarismo das massas. Ele sabe que ele vai ser crucificado. O capitalista, se existisse, se prepararia pra ser um membro na liderança do partido comunista, um ‘Bonze’. Parece que faltam na língua portuguesa algumas palavras cruciais do comunismo como é praticado na realidade.

Tanto faz, não faz falta a falta das palavras – uma conversa com um esquerdista é impossível; com um Direitista, se esse se declarasse, o esquerdista faria a dança do Neymar Jr., com um outro esquerdista ele repetearia, em coro, frases do Lula sem adicionar alguma mais; e comigo, um transpolítico, ele não soubesse do que falar no primeiro lugar.

O único processo viável para um ‘esquerdista’ é para ele realizar que foi traído, foi enganhado da primeira. Não só recente e não só de um partido ou alguns políticos, mas de uma filosofia quase bicentenário, um veneno doce, uma droga mental que já causou milhões de fatalidades no mundo inteiro.

Até ele se despertar ao fato que não existe um ‘free lanche’, ele vai lutar veementemente para as escolas públicas que vão adestrar o seu filho de ser mais um robô na grande massa de idiotas controlados pelas mídias invés de começar pensar por ele mesmo; ele vai lutar pelos remédios que fazem ele obediente e incapaz de pensar claramente; ele vai insistir que só os criminais e a policia deveriam ter armas; em breve, ele vai lutar com toda a sua força para ser um escravo entre outros escravos; e em fim ele vai aceitar a decadência em tudo e o fato que vai começar faltar tudo em todas áreas da sua vida; Esses são as circunstancias e os eventos testemunhados já por milhões e milhões de infelizes, todos eles esperando um futuro melhor para se mesmos e as suas famílias, em vão.

Déjà vú
Queria mandar os meus pensamentos de hoje a tarde para mim mesmo de 50 anos atrás, para lá, em Frankfurt no julho 1969, nestes últimos dias na vida do Adorno, um esquerdista eloquente que foi incapaz de falar com os esquerdistas mais esquerdas que ele; um homem integro que foi quebrado; perseguido como comunista pelos nazis e pelos americanos igualmente; para, no fim, infartar no confronto com as mulheres super-esquerdistas jogando os seus seios nus na cara dele. Quem poderia imaginar?

Me lembro como se fosse hoje. Uma garota que eu adorava chegou na commune onde eu fiquei nestes dias. Gritando, jubilando. Eu fui apaixonado pra ela mas não entendi pra nada o que passou na cabeça dela. Só admirei tudo que ela fez ou falou. “Nós demos uma lição pra o Wiesengrund hoje que ele nunca vai esquecer!” Aconteceu que pouco antes, as feministas da esquerda extrema dançaram nuas em volta do Adorno durante uma aula até ele chamou a polícia – e aparentemente infartou. Mas a euforia do momento contagiou todos nós. Só o dia depois eu ousei perguntar ela, uma estudante da medicina no primeiro ano da faculdade, “Então, você deu primeiros socorros pra ele quando suspeitou que ele infartou?” Ela não me respondeu. De fato, ela falou mais nada comigo. Nunca mais. E voltando desta pandemia de loucura uns dias depois para a minha casa materna, eu me perguntei: “Como é que a ideia da revolução pelo bem da humanidade faz uma pessoa perder tudo o senso da dignidade humana? Como é que ela mente, distorça, agride e até está cometendo atos criminosos numa euforia, numa trance, numa possessão espiritual como o comunismo seria uma religião, uma seita extremista?

Conclusão
Não tem conversa racional com um esquerdista. Não existe. Como um fanático de uma seita religiosa e extremista, o esquerdista acredita nas mentiras e paradoxos da sua ‘verdade’ sem considerar pra um momento o double-speak e a ilógica das suas propostas. Eles fazem sem remorso e sem consciência o que eles acusam os outros. Eles criam os seus ídolos igual às divindades e aos santos nas religiões. O quem fala diferente é automaticamente um inimigo que deve ser destruído. Ele não é interessado em ajudar melhorar a situação atual na sociedade. Em contrário, ele quer destabilizar a sociedade para acelerar a chegada da ‘Endzeit’ do comunismo, o tempo final da revolução violenta.

O que fazer?
Infelizmente uma desprogramação efetiva não existe. Só podemos fazer um apelo à consciência dos poucos que tem ainda um resto de pensamento crítico. Um convite ao olhar os resultados catastróficos do passado desta filosofia boa demais para ser verdadeira. Analisar os problemas da sociedade atual e lutar contra a corrupção e contra um capitalismo aberrante. Trabalhar para um equilíbrio do individualismo e os valores das comunidades. Combater o monstro do centralismo que destrói qualquer sistema social e econômico, inclusive o comunismo mesmo.

Uma perspectiva boa baseado no comunismo é uma mentira grossa. O socialismo é só uma fase pré-revolucionário e altamente subversiva numa democracia. A auto-realização do ser humano num sistema comunista é impossível. História nós mostrou isto já bastantes vezes. É tempo de agir contra o fantasma do comunismo – sem perder de vista as facetas destrutivas de um capitalismo incontrolado!

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